Aconselhamento genético no pré-natal

28 November, 2019
aconselhamento genético no pré-natal

Durante o pré-natal, o aconselhamento genético pode ser necessário diante de um risco elevado de alterações genéticas detectadas em algum exame, como por exemplo o morfológico do primeiro trimestre, ou em caso de gravidez espontânea de casal que possui um risco maior de transmitir doenças hereditárias aos seus descendentes.

Sempre que possível, o aconselhamento genético deve ser realizado antes da gravidez, principalmente quando a família possui casos de doenças hereditárias, abortos de repetição ou uma gestação anterior envolvendo alterações em genes ou cromossomos. Porém, hoje abordaremos como funcionaria esta conversa com um geneticista durante o pré-natal.

Diferença entre cromossomos e genes

Os temas para um aconselhamento genético podem estar ligados a um risco de alterações cromossômicas, como a Síndrome de Down, ou  distúrbios de gene único, como a Anemia Falciforme ou Fibrose Cística. Por isso, é importante entender as diferenças entre ambos e conhecer as alternativas de prevenção e diagnósticos de cada caso.

Se pensamos do maior ao menor, cada célula do nosso corpo contém toda nossa informação genética. Esta informação está contida em 23 pares de cromossomos autossomos mais 1 par de  cromossomos sexuais (XX para mulher ou XY para homem). Por sua vez, dentro de cada cromossomo estão contidos os genes, que somam aproximadamente 20.000.

célula, cromossomo e gene

Cromossomos

Cada par de cromossomos que temos é composto de 1 cromossomo herdado de nossa mãe e outro de nosso pai formando nosso cariótipo. A maioria das alterações cromossômicas são espontâneas e ocorrem mesmo quando os pais não possuem alterações em seu cariótipo. Apenas uma parcela pequena dos casos de nascimentos de bebês com síndromes genéticas e perdas gestacionais são provocadas em consequência de rearranjos balanceados de um dos progenitores que não estão relacionadas a alterações fenotípicas no portador.

As alterações cromossômicas espontâneas nos bebês estão altamente relacionadas com o aumento da idade materna. O risco começa a aumentar drasticamente e de forma contínua a partir dos 35 anos. Durante o pré-natal, é possível detectar essas alterações em diferentes momentos:

  • 10ª semana de gestação através do NIPT (NACE), o teste pré-natal que avalia alterações cromossômicas a partir do DNA fetal livre circulante no sangue materno. Como se trata de um teste realizado a partir da coleta de sangue, sem implicar em um risco para a gravidez, este teste genético é não invasivo.
  • Exame de ultrassom morfológico do primeiro trimestre de gravidez, realizado entre a 11ª e 13ª semana de gestação, quando é feita a medição da transluscência nucal.
  • Amniocentese deve ser feita preferencialmente a partir da 15ª semana de gestação, sendo esse o estudo definitivo para confirmar as alterações cromossômicas.
  • Ultrassom morfológico da 22ª semana, onde pelo avanço da gestação é possível identificar com mais clareza alterações na formação compatíveis com síndromes genéticas ou malformação fetal.

Genes

Os genes estão contidos dentro dos cromossomos. Mesmo com um cromossomo normal é possível ser portador de uma ou mais mutações genéticas. As mutações genéticas normalmente são herdadas pelos pais, mas também podem acontecer por primeira vez em uma família, que são os casos chamados de novo.

Sobre as doenças genéticas, podemos dividir nos seguintes grupos:

1. Doenças monogênicas (distúrbios de gene único):

Doenças monogênicas são condições em que a causa primária pode ser atribuída a uma única variante genética definida. Essas condições geralmente seguem três padrões distintos de herança: autossômica dominante (AD), autossômica recessiva (AR) ou ligada ao X (XL).

  •  Herança autossômica dominante: Neste caso, com apenas um dos progenitores possuir uma mutação genética, existe um risco de 50% de transmissão da doença.

 

  • Herança autossômica recessiva: É possível que os pais sejam portadores de mutações genéticas recessivas sem desenvolver uma doença, pois este tipo de doença se manifesta apenas quando variantes patogênicas são herdadas por pai e mãe, caso contrário uma pessoa pode ser portadora da mutação sem ser afetada pela condição patológica.

As doenças de herança autossômica recessiva são por exemplo aquelas mais comuns em filhos de consanguíneos ou determinadas etnias, como por exemplo Tay Sachs para judeus e Anemia Falciforme para afrodescendentes, onde o risco de manifestação é de 25%.

 

  • Herança ligada ao X: Esse tipo de herança ligada ao sexo ocorre quando o gene com uma variante genética está no cromossomo X. As doenças que decorrem desse tipo de herança ligada ao sexo surgem com grande frequência nos homens e raramente nas mulheres. Um exemplo comum é a Síndrome do X Frágil, condição que inclui alterações de comportamento, além de sinais identificados em transtornos do espectro autista.

 

2. Doenças multigênicas:

Ocorrem a partir da alteração em vários genes que em conjunto são responsáveis pela manifestação de uma doença, como por exemplo no autismo. Estes tipos de doenças genéticas ainda não podem ser evitados antes da gravidez.

 

Como detectar doenças genéticas durante a gravidez?

A capacidade de diagnosticar doenças gênicas durante a gravidez ainda é limitada, porém algumas delas podem ser identificadas através de da Amniocentese.

Antes da gravidez, existem painéis genéticos e testes de compatibilidade genética que rastreiam a presença das mutações nos futuros pais para determinar o risco de transmissão aos descendentes, assim como também existem tratamentos para a análise do embrião antes da gravidez (PGT-M) para permitir que o bebê nasça livre da doença.

Diante da identificação de um risco, o aconselhamento genético torna-se fundamental, seja antes, durante ou depois da gravidez, pois entender todo o processo, desde a identificação do risco aumentado, até as possibilidades de resultados dos testes genéticos a serem realizados e respectivas consequências para a família e saúde do bebê precisam estar 100% claros para a tomada de uma decisão informada.

Algumas condições genéticas diagnosticadas durante o pré-natal permitem um tratamento durante a gravidez ou o planejamento do parto em um hospital preparado para proporcionar o atendimento necessário ao bebê. Por isso, é fundamental um acompanhamento completo da gestante e o geneticista faz parte do processo.

 

Susana Joya, Assessora Científica Igenomix.

 

 


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