Malformação fetal: o que causa e como prevenir?
Entenda como surgem estas malformações, como diagnosticar e se é possível prevenir que elas ocorram.
A cada ano, estima-se que 7,9 milhões de crianças nasçam com alterações fetais congênitas graves, o que corresponde a 6% dos nascimentos mundiais. As alterações funcionais ou estruturais do desenvolvimento fetal, cuja origem ocorrem antes do nascimento são denominadas anomalias congênitas (AC). Elas podem ter origem em causas hereditárias, ambientais ou desconhecidas.
Apesar de uma parte das alterações fetais serem hereditárias, inclusive quando os pais não manifestam sintomas, essas condições também podem ser provocadas por erros espontâneos na divisão celular ou causas multifatoriais, onde há uma complexa interação entre fatores ambientais e genéticos. Além disso, 50% dos casos se devem a origens desconhecidas.
As anomalias que têm um fator genético são divididas em três categorias:
- Alterações cromossômicas
- Alterações monogênicas (que afeta um único gene)
- Herança multifatorial
Alterações cromossômicas: Síndrome de Down e outras síndromes genéticas
Nas últimas décadas, a idade média em que homens e mulheres têm filhos aumentou significativamente nos países desenvolvidos e, consequentemente, elevou o surgimento de anomalias congênitas relacionadas com a idade dos progenitores.
Na maioria dos casos, as alterações cromossômicas impedem o embrião de evoluir, o que muitas vezes acontece antes mesmo da mulher tomar conhecimento de que havia engravidado. Em outras situações ocorrem abortos espontâneos, geralmente no primeiro trimestre de gravidez.
Em ocasiões, algumas alterações cromossômicas podem evoluir ao nascimento de um bebê, como é o caso da trissomia 21, conhecida como Síndrome de Down, e as trissomias 13 e 18, que correspondem às Síndromes de Patau e Edwards, respectivamente.
A Síndrome de Down pode ser compatível com uma vida feliz, sendo importante proporcionar estímulos para desenvolvimento dos portadores. Esta trissomia afeta 1 a cada 800 nascimentos, sendo a idade materna um fator para o aumento de risco.
Enquanto a frequência de nascimentos de bebês com Síndrome de Down é de 1 a cada 2.000 entre mulheres jovens, aos 40 anos a incidência é de 1 a cada 100 nascimentos.
Por outro lado, no caso das trissomias 13 e 18 a expectativa de vida é bastante menos positiva em comparação com a trissomia 21.
Doenças monogênicas
As doenças monogênicas são aquelas que surgem a partir da mutação que afeta um único gene. Ao contrário das alterações cromossômicas, que normalmente se devem a falhas espontâneas na divisão celular, as doenças monogênicas costumam ser hereditárias na maioria dos casos.
A frequência de doenças monogênicas muitas vezes varia de acordo com diferentes populações, por exemplo, a Doença Falciforme (Anemia Falciforme) é mais frequente em populações africanas e mediterrâneas, enquanto Tay-Sachs e Sandhoff possuem maior prevalência entre a população judaica Ashkenazi.
Herança multifatorial
As anomalias congênitas de herança multifatorial são causadas por uma combinação de mutações genéticas associadas a fatores ambientais que são em sua maioria pouco compreendidas, como ocorre com o autismo.
Porém, certas alterações fetais de origem multifatorial não são severas e podem ser corrigidas, por exemplo, a fenda palatina. Apesar dos genes terem um papel importante para o desenvolvimento desta condição, outros fatores, como fumar tem sido associado a um aumento do risco.
Ambiente pré-natal
O período pré-natal é um momento de suma importância para a saúde do feto. A saúde da mãe, alimentação, nível de exposição a toxinas e poluentes ambientais afetam diretamente o desenvolvimento fetal. Por exemplo, são conhecidos os defeitos provocados pelo uso do agrotóxico Agente Laranja durante a guerra do Vietnã.
Apesar de hábitos saudáveis e uma dieta equilibrada não garantir a saúde do bebê, sua contribuição pode prevenir alterações e maximizar as probabilidades de saúde.
Durante a gravidez, o uso de álcool, drogas e cigarro aumentam exponencialmente os riscos de saúde do bebê, bem como a falta de nutrientes importantes também representam um perigo para o desenvolvimento fetal, como por exemplo, o Ácido fólico no início da gravidez, durante o período de formação do tubo neural do feto.
Como prevenir e tratar alterações fetais?
A medicina atual oferece várias ferramentas para a prevenção, diagnóstico e tratamento das alterações fetais.
- Planejando a gravidez
O primeiro passo do processo é contar com um aconselhamento genético para entender os benefícios e limitações dos testes oferecidos atualmente.
Por exemplo, é possível realizar uma avaliação do risco genético do casal para doenças hereditárias através do teste de compatibilidade genética (CGT). Este painel de portadores pode rastrear desde mutações genéticas mais frequentes, quanto ser personalizada de acordo com o histórico de doenças genéticas recessivas de uma família, como por exemplo atrofia muscular espinhal, fibrose cística, fenilcetonúria, entre outras.
Outra ferramenta importante e frequentemente utilizada entre casais que enfrentam dificuldades para engravidar é o cariótipo, um teste que analisa os cromossomos do casal para identificar se existe alguma alteração que, mesmo sem gerar sintomas, pode aumentar o risco de síndromes genéticas e abortos.
O que fazer se identificar um risco de descendentes afetados?
Quando é identificado um alto risco envolvendo um gene ou cromossomo, é possível prevenir que os descendentes sejam afetados através do teste genético pré-implantacional, que é realizado junto com um tratamento de Fertilização in Vitro.
O teste genético pré-implantacional pode ser utilizando na prevenção de doenças monogênicas (PGT-M) e alterações cromossômicas, no entanto, não pode detectar alterações de origem multifatorial, portanto é necessária uma conversa com um especialista em genética para entender quais testes caberiam em cada caso.
Diagnóstico precoce durante o pré-natal
Algumas alterações, como a Síndrome de Down, podem ser detectadas a partir da décima semana de gestação. Esta possibilidade alcançada graças o NIPT, o teste pré-natal não invasivo (NACE) é um recurso para evitar a realização desnecessária de testes invasivos como a amniocentese.
O conhecimento sobre a presença de alterações cromossômicas durante o pré-natal é de extrema importância para a tranquilidade da família e, caso seja detectada alguma alteração, também para o preparo e aconselhamento genético para acolher e estimular o bebê.
Amanda Shinzato, Assessora Científica Igenomix.
Fonte: Birth Defects: Causes and Statistics By: Ingrid Lobo, Ph.D. (Write Science Right) & Kira Zhaurova, M.S. (Nature Education) © 2008 Nature Education Citation: Lobo, I. & Zhaurova, K. (2008) Birth defects: causes and statistics. Nature Education 1(1):18