Causa do aborto: Como descobrir?

6 June, 2019
causa do aborto

Recebo muitas dúvidas sobre razões de aborto. Um assunto que a gente abordou recentemente na entrevista anterior que fiz com a Dra Marcia Riboldi, mas que devido às muitas perguntas que chegaram, resolvi chamá-la novamente para ampliar a informação.

Como descobrir a causa do aborto?

A grande maioria dos abortos acontecem por alterações cromossômicas. Por isso é importante investigar as causas desde a primeira perda, porque é possível prevenir a repetição se a gente conseguir descobrir se essa perda foi provocada por uma alteração cromossômica. O teste que permite estudar as causas genéticas do aborto chama-se POC.

O que fazer se estou sofrendo um aborto em casa e quero enviar o material da perda para análise?

É bastante comum expelir em casa o material do aborto, pois o médico dará preferência para a forma natural, sempre que possível. Nessa situação, apesar de menos ideal para coletar um material para a análise, também é viável, desde que seja criada uma medida alternativa para coletar e armazenar esse material de forma estéril, pois evitar a contaminação é fundamental para obter resultado na análise genética.

O ideal é depositar o material do aborto diretamente em um frasco estéril que pode ser comprado na farmácia; aquele normalmente utilizado para coletar urina. Se não houver tempo para a compra do frasco, um recipiente de vidro bem limpo e esterilizado, por exemplo, passando um álcool para uma limpeza profunda e depois lavado com água, pode servir como uma medida provisória até adquirir um frasco estéril que deve ser utilizado para o envio, conservado apenas em soro fisiológico.

Em caso de emergência, coloque o frasco improvisado coberto, por exemplo com parafilm, na geladeira e entre em contato com a equipe da Igenomix para receber orientação específica de como enviar de qualquer parte do Brasil a um de nossos laboratórios. Até o momento do envio, o material precisa ser mantido na geladeira.

Nesse meio tempo, por exemplo no dia seguinte, esse material coletado precisa estar em soro fisiológico para evitar que o sangue seque e coagule, o que impede a análise.

Quando há mais tempo, o ideal é solicitar o recebimento de um kit próprio para esta coleta que nós enviamos para o endereço do médico ou da paciente. O transporte é realizado em temperatura ambiente, sendo que o tempo de trajeto não deve superar 48 horas.

A partir de que semana posso fazer o estudo do material de aborto?

Normalmente a partir da sexta semana de gestação é possível fazer o estudo dos restos ovulares com a tecnologia de sequenciamento de nova geração (NGS), que é a tecnologia que utilizamos para nossas análises. Na quinta semana de gestação pode ser difícil, pois o embrião é como um coágulo sanguíneo, muito difícil de identificar. Por isso, além dos restos ovulares, precisamos também de uma amostra do sangue materno, pois vamos comparar o DNA do resultado obtido com o DNA materno no caso de um resultado de menina normal.

Como coletar o sangue materno para descartar o risco de contaminação?

Temos uma rede de parceiros no Brasil para esta coleta, algo que é informado de forma personalizada quando a paciente entra em contato com a gente. Em ocasiões, onde a logística é complicada, existem alternativas como coleta de saliva. O sangue é preferível porque permite detectar o DNA mais facilmente, porém existem alternativas sim.

Estudei o material do aborto e o resultado deu tudo normal, e agora?

Se tudo deu normal com o estudo do aborto e com os demais testes realizados no casal, você pode continuar tentando naturalmente. A perda provavelmente foi uma fatalidade e a chance de uma próxima gravidez normal é grande.

Quais são as alterações cromossômicas mais frequentes em aborto?

As trissomias dos cromossomos 16 e 22 são alterações que normalmente provocam um aborto de primeiro trimestre.

Aborto e endometriose têm relação?

É raro, mas pode ter uma relação, geralmente ligada a casos mais severos com cirurgias anteriores. Assim mesmo a chance é muito baixa porque normalmente quando existe uma relação entre a endometriose e a gravidez, ela está associada com falhas de implantação, ou seja, a gravidez não acontece.

Trombofilias e imunologia são outras possíveis causas de aborto

Existem muitas linhas de estudos relacionadas à trombofilia, imunologia, infertilidade sem causa aparente e aborto sem causa aparente. Hoje existem painéis de trombofilias e exames imunológicos que ajudam a direcionar o tratamento, mas infelizmente é difícil bater o martelo sobre uma causa de aborto por uma dessas razões específicas.

Às vezes uma perda gestacional pode ocorrer por alguma alteração da saúde, um evento traumático ou um estresse muito grande. O corpo pode interpretar uma situação de perigo que não conseguimos explicar ainda e provocar o aborto. Nessas situações o risco de acontecer novamente será muito baixo, tão baixo quanto o risco de uma primeira perda.

Se o aborto aconteceu por uma alteração cromossômica, a única forma de evitar o risco seria uma FIV (Fertilização in Vitro)?

Sim, pois a Fertilização in Vitro com o Teste Genético Pré-implantacional (PGT-A) é a única forma de identificar os embriões livres de alterações cromossômicas antes da gravidez.

Um aborto pode acontecer por um fator masculino

Quando falamos de gravidez não podemos esquecer que estamos falando de um casal. Por isso, também é importante fazer uma análise na saúde do parceiro, conversar com o urologista, que pode pedir alguns exames, como um espermograma e um Teste de Fragmentação de DNA Espermático.

É muito comum a presença da varicocele. Essa condição afeta a qualidade do espermatozoide, ou seja, o espermograma pode sair normal, porém existir uma Fragmentação no DNA dos espermatozoides, o que se relaciona com o aborto.

O cariótipo do casal também é um exame muito importante, pois é possível que um dos dois tenha uma pequena alteração no cariótipo que não causa nenhum problema para a pessoa, mas que pode ser um obstáculo na hora de engravidar.

E incompatibilidade do casal, tem a ver com o cariótipo?

Não, a incompatibilidade que muitas vezes ouvimos falar está mais ligada ao sistema imunológico. Esse é um assunto ainda em discussão científica, ou seja, existem muitos estudos, mas não há uma comprovação irrefutável.

A idade maternidade tardia ainda é uma das principais causas

Infelizmente é uma realidade. O risco de aborto aumenta com a idade da mulher mesmo quando ainda somos saudáveis, os óvulos já podem estar sofrendo a ação do tempo, especialmente após os 37 anos.

Mas é importante pensar em cada caso individualmente após um aborto, que sempre é um trauma, não importa em que semana acontece. Contar com um aconselhamento genético, apoio do ginecologista e urologista para tentar identificar todas as possíveis causas é importante até do ponto de vista emocional e, falando de emocional, não vamos descartar também a importância de um apoio psicológico para superar esta perda.

Assista a entrevista!

Monica Romeiro

 

 

Sou Monica Romeiro, mãe do Lucas e da Larissa. Amo compartilhar minhas experiências e passar informações corretas e seguras para as mulheres que sonham em engravidar, para gestantes e para mamães. Convido você a conhecer meu blog e canal no YouTube.

 

 

 


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